"Entre Silêncios Virtuais e Aromas Reais"

Entrei pela porta e fui recebida por um silêncio que gritava. Seria isto o Natal? Onde estavam as vozes misturadas na cozinha, o perfume doce das rabanadas, as gargalhadas das crianças que outrora corriam ansiosas pelos presentes?

A minha família estava ali! Se é que estava realmente presente, pois as mentes divagavam por inúmeras fantasias e tudo o que era virtual transparecia nos seus sorrisos banais. Sentados no sofá, cada um vivia uma experiência diferente do Natal virtual. O telemóvel vibrou. Mensagens de "amigos". Cada uma que lia parecia igual a tantas outras, estruturadas por alguém que pensou por eles. Aquelas palavras não tocavam, pois não tinham saído de nenhum coração.

Decidi ir à cozinha e começar a preparar algo para o jantar que não estivesse previamente cozinhado pelo Pingo Doce. Quando o bacalhau começou a libertar o seu aroma e as couves se abriram em vapor, algo mudou. Os mais velhos aproximaram-se para ver o que se passava. Chegaram as recordações e decidiram participar no cozinhado.

Logo se seguiram os doces! Os mais novos vieram ver o que se passava e ficaram entusiasmados quando lhes disseram: "coloquem açúcar e canela nas rabanadas". Aquela cozinha cheirava a alegria. Parece que, por momentos, a inteligência artificial deu lugar à inteligência emocional e, quando menos esperava, toda a família estava reunida à mesa para provar aquelas iguarias que tinham a mão de todos. Que bom foi partilhar a cozinha!

A avó sentou-se e abriu o baú das histórias antigas do Natal. Qual foi o espanto daquelas crianças quando a avó lhes disse que o Pai Natal existia mesmo! Afinal, Jesus está nos nossos corações e, por isso, com amor trocamos presentes como Ele os recebeu um dia. Nesse Natal tudo foi diferente. Os presentes não estavam na árvore. As crianças ficaram ansiosas e preocupadas por não os verem. Então a avó explicou: "O Pai Natal virá durante a noite e, por isso, ninguém pode estar acordado". Foi uma noite santa, divertida, inocente e repleta de sonhos que deixaram de ser virtuais.

"Este Natal ensinou-me que os melhores presentes não vêm embrulhados, mas temperados com amor e partilhados à mesa. Desliga o virtual e liga-te ao essencial."

Enfª Sílvia Pinto - Natal 2025